dimanche 28 février 2010

Revolução conservadora

Uma vez que estava a ver um filme no cinema, uma frase simples chamou-me à atenção. Não era do filme (nem me lembro de que filme se tratava): era uma frase citada por um rapaz, um adolescente num trailer para outro filme. Ele dizia algo neste estilo: “Para os jovens de hoje, a única coisa que resta para chocar é o Amor”. E esta frase deixou-me muito pensativo, sobretudo quando tive de discutir sobre ela com uma amiga que me respondeu que “hoje em dia, os jovens já não sabem para quê lutarem; a nossa juventude está doente”.

De facto, houve, ao longo da nossa história e sobretudo desde os primeiros passos da democracia liberal, várias revoluções: a revolução Vintista, a primavera dos povos de 1848, as revoluções vanguardistas do inicio do século XX, os anos 20 com as Flappers, Maio de 68… Estas revoluções todas tinham sobretudo como propósito principal algo que está muito na moda desde a revolução Francesa: lutar contra o velho, o retrógrado e avançar para o caminho do progresso e do melhor. Há, em cada uma destas revoluções, uma espécie de luta do novo contra o antigo regime, como aconteceu na revolução Francesa. Há sempre um Jacobino escondido, algo em nós que nos faz pensar que a ordem vigente está definitivamente ultrapassada e que temos que fazer tudo para esta desaparecer totalmente e isso graças a uma mudança radical.
Com efeito, como sabemos, cada grande revolução traz, ao fim de um certo tempo, novas ideias conservadoras. O que era novo acaba por se tornar a norma e, quando é o caso, uma nova rebeldia surge e a norma cai para deixar lugar ao que é fresco e jovem. Um exemplo disso poderia ser Manet quando ele começou a pintar, nua, uma prostituta, para o seu quadro “olympia”, o que gerou muitos escândalos na época. Porém, pintar mulheres nuas de forma mais crua passou a ser a norma… até ser de novo muito criticado pelas vanguardas do século XX, que consideraram este estilo como antigo e ultrapassado. O que é antigo acaba por ser velho. O progressista acaba por ser o conservador e as revoluções estariam aí para evitar que o nosso sistema fique eternamente parado.

No entanto, desde a famosa revolução de Maio de 68, já não houve revolução. Parece que, de repente, a nossa juventude já não teve mais nada em que lutar. Também, temos que reconhecer que aquela de 68 foi particularmente polémica, nomadamente com certas questões ligadas à liberdade sexual. Fomos muito longe nesse dia, talvez mais do que em qualquer outra revolução. Aquela esquerda heróica, que, em quase cada revolução, era invocada (a famosa “Grande Esquerda”), teve um auge e recaiu de repente para degradar-se lentamente e acabar por ser aos olhos de Jean Paul Sartre “um cadáver cheio de vermes”. E desde então, tentou-se tudo para voltar a chocar de novo: droga, pornografia, subculturas; punk, emo, gótico; neo-nazismo, neo-marxismo e muitos outros “ismos”… Mas nunca mais aconteceu. Parece que a magia parou à medida que a própria esquerda se foi degradando, fazendo de temas como o aborto ou a eutanásia as suas últimas bandeiras. Hoje, mais do que nunca, podemos dizê-lo: “para os jovens de hoje, a única coisa que resta para chocar é o Amor”.

Ao fim de tantas revoluções, ao fim de chocar e de extremar-se cada vez mais, podemos igualmente dizê-lo: a nossa juventude está doente. Ela está conformista e, muitas vezes, não luta contra os padrões já existentes. Temas como o casamento homossexual são vistos como condições prévias para o progresso e o bem-estar geral. E, ajustando-se às ideias que são hoje conservadoras, o jovem deixa-se levar por o que parece ser um futuro melhor, sem grandes revoltas ou manifestações.
No entanto, haverá um dia onde a juventude, mais uma vez, vai levantar-se contra o antigo e o retrógrado, contra as ideias que já estão em vigor há demasiado tempo. Mas com que novos conceitos? Mais uma revolução sexual? Mais manifestações democráticas? Mais correntes contra-cultura? Não. Essas ideias serão provavelmente aquelas que Leo Strauss quis tanto que nós revisitássemos e que são personalizadas nas figuras de Jesus Cristo, Locke ou Sócrates. Depois de já ter tentado tudo o que havia para tentar, a juventude terá de se levantar em nome de causas já antigas como a abstinência ou lutando por um maior respeito pela vida humana. Só desta forma a juventude poderá um dia chocar de novo. Só através de uma revolução conservadora é que poderemos de novo ouvir as pessoas de idade apontarem os jovens e dizerem “geração perdida”.

Com efeito, tudo o que falta aos jovens para chocar hoje é o Amor. Mas não qualquer Amor: vai ser um Amor mais antigo, mais absoluto, uma verdadeira paixão por a busca da Verdade e um ódio sem falhas ao relativismo, maior inimigo da sociedade aberta. A revolução conservadora será o voltar da virtude, condição obrigatória para uma democracia com maior qualidade.

3 commentaires:

troNik a dit…

Afilhado!!
Antes demais, parabéns, achei o teu post muito interessante..
Em parte concordo com o q dizes, é verdade que a nossa geração é muito comodista, mas repara, antigamente, não existiam as tecnologias que hoje usufruímos, a maior parte das pessoas já não precisa de sair de casa para satisfazer as suas necessidades e isto a meu ver cria um vazio egocêntrico (se assim podemos chamar). Isto é, as pessoas no geral só se preocupam com aquilo que é deles, já não existem causas comuns, já não existe o colectivo, o individual suplantou o "nós". Desde que "eu" possua aquilo que preciso, o resto não interessa.
É quase irónico vivermos num mundo globalizado que apenas fomenta o individualismo.
Concluindo, acho que a próxima revolução será a do regresso, não em termos políticos, mas em termos humanos, voltar a tornar o Homem um Ser Social.
Grande abraço

Pedro moreira a dit…

De facto, não tenho duvida que, se a revolução conservadora acontecer, esta revolução social vai também ter que ser feita :-S
O Homem tem que regressar a pensar no Homem : )
Padrinho, encontramos nos no bairro pa! : p

Jorge Teixeira a dit…

Tal como o Renascimento foi buscar a cultura Clássica, eu acredito que um novo Iluminismo se avizinhe por aí.

Acredito numa nova revolução mais ''espiritual'' até, que irá findar o relativismo gnoseológico que reina a nossa sociedade.

Precisamos de o despertar de uma consciência do Homem enquanto parte duma essência Universal, de algo superior!

E eu acredito na Europa como um dos caminhos a tomar para isso.