lundi 22 mars 2010

Portugal Futuro, Rui Belo

O PORTUGAL FUTURO
o portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e chamem elas o que lhe chamarem
portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o portugal futuro

dimanche 14 mars 2010

Pessimismo ao plural

"Para as forças do mal ganharem, basta que as forças do bem não façam nada."

Porquê os Portugueses não percebem algo de tão óbvio?
Até para quem não acredita no bem e no mal (não é propriamente disto que se trata aqui), esta frase deveria ser brutalmente evidente.

Quando eu digo, em bom idealista que eu sou, que devemos e podemos mudar as coisas, respondem-me que o sistema está podre e que não dá para muda-lo. Pior, quando digo que isso é fatalismo, oiço sempre: "não, sou realista".

Logo a seguir, respondo sempre que "realista" é o argumento do fatalista, que é por sua vez pessimista. Ou seja, um acha que os acontecimentos já estão predeterminados e o outro acha que não podemos concretizar os nossos ideais.

Os Portugueses têm de perceber que a "realidade" de que eles falam é apenas aquela que eles acham que deve ser. Se todos pensamos que a realidade é aquela de um sistema corrupto e que não pode avançar, tenham a maior certeza de que ele não vai mudar. Mas se eu me tornar idealista, se ganhar esperança e se conseguir convencer os outros de que temos a possibilidade e capacidade de mudar o sistema, então tenham a certeza que pode acontecer.

O que me podem ainda responder? "não queres ver a realidade"; "hás um dia de perceber"; "tu és ingénuo"...
Velhos do Restelo, percebo o vosso ponto de vista, acreditem. Mas se eu não fizer o primeiro passo para mudar, ninguém o fará por mim. Temos que desencadear o movimento idealista e convencer de que, sem esperança, não há futuro.

Com efeito, o primeiro trabalho do bom idealista é de convencer o outro em sê-lo. as pessoas que mais mudaram a história foram grandes idealistas e, por isso, essas pessoas são muito raras. Sei, em bom idealista, que este texto provavelmente não convencerá ninguém mas basta me convencer uma pessoa para não quebrar a corrente...

Lembrem-se, são as gotas de agua que fazem o oceano.

dimanche 28 février 2010

Revolução conservadora

Uma vez que estava a ver um filme no cinema, uma frase simples chamou-me à atenção. Não era do filme (nem me lembro de que filme se tratava): era uma frase citada por um rapaz, um adolescente num trailer para outro filme. Ele dizia algo neste estilo: “Para os jovens de hoje, a única coisa que resta para chocar é o Amor”. E esta frase deixou-me muito pensativo, sobretudo quando tive de discutir sobre ela com uma amiga que me respondeu que “hoje em dia, os jovens já não sabem para quê lutarem; a nossa juventude está doente”.

De facto, houve, ao longo da nossa história e sobretudo desde os primeiros passos da democracia liberal, várias revoluções: a revolução Vintista, a primavera dos povos de 1848, as revoluções vanguardistas do inicio do século XX, os anos 20 com as Flappers, Maio de 68… Estas revoluções todas tinham sobretudo como propósito principal algo que está muito na moda desde a revolução Francesa: lutar contra o velho, o retrógrado e avançar para o caminho do progresso e do melhor. Há, em cada uma destas revoluções, uma espécie de luta do novo contra o antigo regime, como aconteceu na revolução Francesa. Há sempre um Jacobino escondido, algo em nós que nos faz pensar que a ordem vigente está definitivamente ultrapassada e que temos que fazer tudo para esta desaparecer totalmente e isso graças a uma mudança radical.
Com efeito, como sabemos, cada grande revolução traz, ao fim de um certo tempo, novas ideias conservadoras. O que era novo acaba por se tornar a norma e, quando é o caso, uma nova rebeldia surge e a norma cai para deixar lugar ao que é fresco e jovem. Um exemplo disso poderia ser Manet quando ele começou a pintar, nua, uma prostituta, para o seu quadro “olympia”, o que gerou muitos escândalos na época. Porém, pintar mulheres nuas de forma mais crua passou a ser a norma… até ser de novo muito criticado pelas vanguardas do século XX, que consideraram este estilo como antigo e ultrapassado. O que é antigo acaba por ser velho. O progressista acaba por ser o conservador e as revoluções estariam aí para evitar que o nosso sistema fique eternamente parado.

No entanto, desde a famosa revolução de Maio de 68, já não houve revolução. Parece que, de repente, a nossa juventude já não teve mais nada em que lutar. Também, temos que reconhecer que aquela de 68 foi particularmente polémica, nomadamente com certas questões ligadas à liberdade sexual. Fomos muito longe nesse dia, talvez mais do que em qualquer outra revolução. Aquela esquerda heróica, que, em quase cada revolução, era invocada (a famosa “Grande Esquerda”), teve um auge e recaiu de repente para degradar-se lentamente e acabar por ser aos olhos de Jean Paul Sartre “um cadáver cheio de vermes”. E desde então, tentou-se tudo para voltar a chocar de novo: droga, pornografia, subculturas; punk, emo, gótico; neo-nazismo, neo-marxismo e muitos outros “ismos”… Mas nunca mais aconteceu. Parece que a magia parou à medida que a própria esquerda se foi degradando, fazendo de temas como o aborto ou a eutanásia as suas últimas bandeiras. Hoje, mais do que nunca, podemos dizê-lo: “para os jovens de hoje, a única coisa que resta para chocar é o Amor”.

Ao fim de tantas revoluções, ao fim de chocar e de extremar-se cada vez mais, podemos igualmente dizê-lo: a nossa juventude está doente. Ela está conformista e, muitas vezes, não luta contra os padrões já existentes. Temas como o casamento homossexual são vistos como condições prévias para o progresso e o bem-estar geral. E, ajustando-se às ideias que são hoje conservadoras, o jovem deixa-se levar por o que parece ser um futuro melhor, sem grandes revoltas ou manifestações.
No entanto, haverá um dia onde a juventude, mais uma vez, vai levantar-se contra o antigo e o retrógrado, contra as ideias que já estão em vigor há demasiado tempo. Mas com que novos conceitos? Mais uma revolução sexual? Mais manifestações democráticas? Mais correntes contra-cultura? Não. Essas ideias serão provavelmente aquelas que Leo Strauss quis tanto que nós revisitássemos e que são personalizadas nas figuras de Jesus Cristo, Locke ou Sócrates. Depois de já ter tentado tudo o que havia para tentar, a juventude terá de se levantar em nome de causas já antigas como a abstinência ou lutando por um maior respeito pela vida humana. Só desta forma a juventude poderá um dia chocar de novo. Só através de uma revolução conservadora é que poderemos de novo ouvir as pessoas de idade apontarem os jovens e dizerem “geração perdida”.

Com efeito, tudo o que falta aos jovens para chocar hoje é o Amor. Mas não qualquer Amor: vai ser um Amor mais antigo, mais absoluto, uma verdadeira paixão por a busca da Verdade e um ódio sem falhas ao relativismo, maior inimigo da sociedade aberta. A revolução conservadora será o voltar da virtude, condição obrigatória para uma democracia com maior qualidade.

Para um melhor pluralismo, melhores valores


A medida que vamos caminhando no difícil passeio da vida, parece que vai sendo cada vez mais claro que tudo na vida é uma questão de equilíbrio: se eu comer demasiado por exemplo, o meu corpo enfraquece; no entanto, se eu não comer o suficiente, o meu corpo vai também enfraquecer. Somos seres humanos e, por sê-los, partilhamos todos características comuns ou diferentes. E é este um dos meus pontos neste ensaio: estas particularidades nos mostram que a moral não é nem relativa nem monista mas uma subtil mistura dos dois.

Ou seja, temos hoje em dia muitas dificuldades em estarmos insensíveis perante um assassino que andaria a matar a torto e a direito. No entanto, sabemos também que a moral não é sempre um absoluto. Ou seja, é no igualmente dificilmente concebível que tenhamos todos que acreditar em deuses ou num partido sem sermos castigados. No entanto, o que sabemos é que existem, por um lado, valores absolutos que em nenhum caso devemos ultrapassar e, por outro lado, valores relativos muito discutíveis. Ou seja, o verdadeiro problema hoje em dia já não é escolher entre monismo e relativismo, sabemos que no meio está a virtude. O problema é mais saber onde se encontra esse meio.

Com efeito, a fronteira entre o que parece ser um valor absoluto e um valor relativo é bastante ténue. Ainda por cima, quando encontramos o que parece ser um valor absoluto, temos quase invariavelmente a tendência em tentar encontrar a dolorosa excepção. A questão da dignidade humana por exemplo. Esta está consagrada nos direitos dos homens mas questões como o aborto ou a eutanásia não são temas óbvios e nada nos diz que estes não vão contra a dignidade intocável do próprio homem. Uns dizem que sim, outros que não. Os dois campos, de modo geral acho eu, estão de boa fé… mas isto não resolve a pergunta. A questão acaba portanto por ser: que meios temos nós para podermos alcançar e definir, de forma geral e precisa, um valor absoluto? Como é que os nossos antepassados fizeram para decidirem, ao longo do tempo, que determinado valor devia ser inalterável, intocável, atemporal e universal?

Aos meus olhos, há duas formas para responder a isso com maior facilidade. Duas ferramentas que, apesar de não resolverem completamente o assunto, ajudam grandemente para distinguirmos melhor a barreira entre valores relativos e absolutos. Estas vão poder, desta forma, definir melhor a liberdade e melhorar um pouco mais o pluralismo actual que está mergulhado num tremendo relativismo de valores. Estas duas ferramentas são “ razão” e “sensibilidade”. Vou começar por tentar explicar a ferramenta “razão”, é aquela que parece-me ser a mais simples das duas e que deve nos dar resultados talvez mais precisos sobre os valores que queremos alcançar. No entanto, não vou explica-la de qualquer maneira: vou tentar corrobora-la com a famosa experiência de Milgram.

A experiência de Milgram funciona desta forma: são pedidos voluntários para participar numa experiência que é, supostamente, relacionada com “o estudo sobre a memória”. Faz-se então entrar um voluntário e dois cientistas explicam-lhe que esta experiência tem por objectivo determinar a que grau de dor é que um ser humano estimula melhor a sua memória (como quando um professor dava uma bofetada a um aluno por ele responder mal). Para isso, o sujeito (que vai ser o “professor”) vai ser posto perante uma falsa máquina de dar choques e ele vai ter que aumentar os volts se o “aluno” (um actor) responde mal a uma das suas perguntas (por exemplo, o “professor” diz uma serie de palavras e quando o “aluno” não a repete correctamente, aumenta-se a intensidade do choque). Um cientista é posto atrás do “professor” e, quando este vai querer parar a experiência ao ver o sofrimento cada vez maior (e simulado) do “aluno”, o cientista vai ter que, quatro vezes, lhe ordenar de ele continuar a experiência. À quarta vez, pára-se tudo e é explicado ao voluntário que o “aluno” era um actor, que não se fez mal a ninguém, que tudo era apenas uma encenação. Se o “professor” não exigir de parar entretanto, a experiência para quando ele terá dado três cargas de 450 volts ao “aluno”.

Não é espantoso, até para quem já sabe o resultado esta experiência, o facto de saber que em média 65% das pessoas acabam por atingir os 450 volts? Será que isso significa que o Homem é, por natureza, um verdadeiro monstro? Nem por isso. Houve várias interpretações desta teoria mas aquela que me parece ser a mais credível é aquela da filósofa Alemã Hannah Arendt quando esta nos fala do conceito de “banalidade do mal”. Ao assistir ao processo do criminal nazi Adolf Eichmann em 1961, Hannah Arendt reparou que ele não era o “monstro sanguinário” que os media muitas vezes descreviam: na verdade, ela o descreve como um funcionário um bocado estúpido, submisso e sem noção de bem e de mal. Para ela, era exactamente esse o mais terrível poder do sistema nazi: não a sua capacidade em criar “monstros” mas a sua habilidade em fazer que as pessoas parassem de pensar e que, por vontade de cumprirem os seus deveres, por vontade de quererem progredir na carreira, as pessoas já não distinguissem bem ou mal por já não pensarem nela. É isso o conceito de “banalidade do mal” e é isso que a experiência de Milgram comprova: um ser humano que já não pensa por si próprio é um Homem sem valores, sem noções de bem ou de mal.

Quais as conclusões que podemos tirar da nossa primeira ferramenta? Nunca, nunca parar de pensar. A ferramenta “razão” é talvez a mais útil das duas porque ela nos ajuda a definir com maior precisão os valores. No entanto, esta nunca pode ser utilizada sozinha porque a razão, por ela só, não pode provar, por exemplo, que eu “não posso fazer ao outro o que eu não quero que me façam”. A razão tem que sempre ser complementada por uma outra ferramenta que eu chamo “sensibilidade” e que eu quero explicar com uma outra experiência: síndrome de Estocolmo.

A síndrome de Estocolmo é um efeito peculiar e bastante conhecido. Ele consiste numa relação forte que se cria entre refém e sequestrador num âmbito de grande tensão. Por exemplo, houve um dia num comboio em Holanda um sequestro por independentistas das ilhas Molucas. Eles ameaçaram de matar uma pessoa por dia enquanto as suas condições não forem satisfeitas. O dia seguinte, eles escolheram um homem, pai de família, para ser executado. Ele pediu no entanto se ele podia deixar uma última mensagem à sua família antes de morrer. Depois do chefe dos independentistas ter ouvido a sua mensagem, foi afinal uma outra pessoa que foi executada. A síndrome de Estocolmo não é uma doença qualquer: o chefe dos sequestradores identificou-se com o refém que ele considerava como um mero objecto e decidiu salva-lo a vida, trocando-o por um outro.

O que nos mostra a segunda ferramenta? Nunca, nunca parar de sentir. É a partir do momento onde pensamos que um outro ser humano é um lixo ou um objecto que podemos usar que já não estamos a sentir. Nós nos esquecemos que este tem provavelmente uma família, amigos e, quando estamos em profundo contacto com ele, nós nos identificamos a reparamos de repente a terrível verdade: nós nem somos tão diferentes. Pior, somos seres humanos e partilhamos, em imensos aspectos, os mesmos gostos, as mesmas aspirações, os mesmos sonhos. Há quem disse um dia que um Homem não era completo enquanto não conhecia o Amor, a guerra e a pobreza. Esta pessoa devia ser muito sabia porque ela descobriu como é que os nossos antepassados fizeram para, de forma geral e abstracta, determinar os nossos valores actuais: sentindo os piores dos sofrimentos na pele deles. E é quando começamos a sentir determinados sofrimentos que deslizamos perante uma difícil verdade: se eu estava no lugar desse tipo agora mesmo, estava mal, muito mal; e por isso, não quero que isso lhe aconteça; por o simples facto de ele ser um ser humano e de eu próprio também o ser, ele não deveria sofrer.

Reparem que pensar e sentir em vista de descobrir a moral são duas coisas relativamente difíceis de conciliar: quando se pensa demasiado, já não se sente e quando se sente demasiado, já não se pensa. Ou seja, um intelectual que esteja longe de tudo e de todos pode facilmente tomar decisões de uma incrível frieza. Ao contrário, reparem como o grevista impulsionado por o seu ódio pode facilmente matar. Podemos dizer que entre o liberal que não sente e o comunista que não pensa, nenhum dos dois tem razão. Mais uma vez, a virtude está no meio. Mas hoje em dia, já nem somos nem um nem outro: as pessoas, por causa da sociedade consumista, pararam em muitos aspectos de sentir e de pensar ou continuam sem encontrar um bom equilíbrio entre os dois.

Não foi ainda há poucos dias que eu encontrei um jovem dizer “É quando eu vi os estragos do trauma pós-abortivo que eu tive de mudar a minha opinião sobre o tema”? Nem foi há assim tanto tempo que eu encontrei este médico, no entanto a favor da eutanásia, que dizia que praticar uma eutanásia era “um gesto difícil e pesado” enquanto ele acreditava, paradoxalmente, que era uma forma de aliviar a dor. Poderíamos simplesmente dizer com os meus exemplos que as pessoas só não utilizam uma das ferramentas, a da sensibilidade, mas não é verdade: justificar o aborto ou a eutanásia passa muitas vezes por meramente dizer que as pessoas têm direito ao corpo delas, sem mais. Uma argumentação nunca deveria ser assim tão simples, as pessoas deveriam saber pensar… e sentir, vivendo o que elas estão a dizer.

samedi 27 février 2010

O samurai e o Ermita

Um dia, um samurai foi para as montanhas. Parando numa aldeia, ele pergunta a um grupo de agricultores se eles não conheciam uma pessoa muito sábia que poderia ajuda-lo a encontrar a resposta a uma pergunta extremamente difícil. Os aldeões disseram então que morava um Eremita em margem da aldeia. Dizia-se que ele era muito conhecedor das coisas e da vida. O samurai foi então ter perto do Eremita que estava a meditar. Ele lhe diz bom dia... e não obtém resposta do homem que continua a meditar como se nada fosse. O samurai, um bocado irritado, faz então a sua pergunta:
"Eremita, será que existe inferno ou paraíso? Se sim, onde estarão estes lugares?"
O Eremita vira-se então para ele e lhe responde, com uma voz irritada, de deixa-lo tranquilo, que o samurai não passava de um tolo, de um lavrador que nem merecia a resposta a uma pergunta tão fácil. O guerreiro, furioso e desonrado, tira então a sua espada para punir o velho insolente quando, de repente, este replica:
"Isto, é o inferno"
O samurai fica então parado e sem voz. Impressionado por a sabedoria deste homem, ele decide ajoelhar-se perante o Eremita que responde a este gesto dizendo:
"E isto, é o paraíso".

dimanche 17 mai 2009

Eutanásia: a morte da morte

« Elle [l’euthanasie] est liée à une certaine déshumanisation. Le mouvement se donne des allures philosophiques en parlant d’autonomie, mais justement il sort de la tradition philosophique, qui confronte ce qu’est l’homme, l’anthropologie. Le mouvement euthanasique refuse la réalité, la souffrance, la mort. Il fait la mort à la mort. »

Mgr J. Suaudeau

« De l’Etat Nazi à l’euthanasie, il n’y a que quelques lettres de différence. »

Lionel Chrzanowski

Será que a eutanásia é justificável em certos casos?

A eutanásia é, hoje em dia, um debate extremamente vivo nas nossas sociedades ocidentais e que, visto de forma pragmática, pode trazer problemas bem maiores que as soluções que, á priori, parece trazer…

Em primeiro lugar, temos que começar a ligar a eutanásia (que significa “morte calma” e que reveste a significação de “morte digna”) ao seu conceito mais próximo que é aquele do suicídio. Com efeito, a eutanásia é, juridicamente pelo menos, um suicídio assistido por uma autoridade médica competente. Isto deve nos levar a pensar o que é o suicídio e quais as suas causas… E o facto é que a historia e as estatísticas nos mostram coisas perturbantes sobre este tema. A própria Organização Mundial por a Saúde (OMS) aponta para um aumento brusco dos suicídios estes últimos cinquenta anos, indica que é a quarta maior causa de mortalidade no mundo (prevendo o segundo lugar para 2020) e… mostra que há mais suicídios em tempo de paz que em tempo de guerra. Porquê? Porque em tempo de guerra, o instinto de sobrevivência, o valor que as pessoas têm da vida e de elas próprias são aspectos que destaquem-se. É a partir do momento onde já não há problemas concretos mas, sim, perda de esperança, bases e valores sólidos, que o Homem aposta tudo no presente e no aspecto material da vida. Quando o Homem começa a pensar exclusivamente desta forma, vemos então uma lenta desumanização de ele próprio que, muitas vezes, leva ao suicídio. Por exemplo, a experiência de muitos médicos (Belgas ou Holandeses, por exemplo) mostra algo de bastante interessante. A maior parte das vezes, a pessoa que pede o suicídio é a pessoa sozinha e sem suporte como já o referimos. Mas a pessoa seguida por a família, amigos, os próprios médicos ou enfermeiras com cuidados bem específicos, demonstrações de afecto, quase nunca pede a eutanásia. Este método, chamado “método paliativo”, que acompanha, com determinados cuidados, o doente na fase terminal da sua vida, passou a ser mais utilizado que a eutanásia na Holanda por a sua incrível eficiência.

Em segundo lugar, a primeira pessoa que lançou expressões habituais nos debates tais que “uma vida que não vale a pena ser vivida” ou “compaixão por o sofrimento” foi… Adolfo Hitler. A ideologia Nazi sobre o eugenismo e a raça ariana era camuflada por um discurso onde transparecia a compaixão para as pessoas sem cura ou em fase terminal. Poderíamos dizer que, à nossa época, as motivações e os métodos não têm nada a ver com o nazismo mas… o facto é que nós nos aproximamos cada vez mais deste tipo de realidade. Com o aborto (imenso também no regime nazi), foi um passo a mais que foi feito nessa direcção e parece que ninguém repara este facto. Com estas medidas, entramos pouco a pouco numa era onde é considerado como “justo” e “progressista” ideias, resultantes da perda de valores do Homem, que desumanizam este ultimo e fazem que caíssemos numa sociedade utilitarista, ultra-liberal e pragmática. Casos desta abertura abundam. Por exemplo, o aborto na Holanda, passou de doze semanas a vinte e uma. Pior, neste mesmo país, vai ser criado uma comissão de “especialistas do fim da vida dos bebes”, que vão poder praticar a eutanásia sobre certos bebes. De modo geral, todos os países que legalizaram o aborto ou a eutanásia fazem avançar o prazo limite onde pode ser praticado… e ninguém sabe onde e quando vai parar.

Resumindo, podemos dizer que a Eutanásia é, ao memo nível que o aborto, um dos resultados da perda de valores e da desumanização do Homem. O Homem, por motivos ligados à “dignidade”, permite métodos que aproximam cada vez mais as nossas sociedades do eugenismo nazi mas onde a única diferença é que o conceito de “raça ariana” é substituído por “pessoas eficientes”. Portanto, caímos numa sociedade utilitarista. Ainda por cima, a eutanásia, matando mais rapidamente as pessoas e de forma mais discreta que antigamente, tenta ocultar o conceito da morte e a sua possível reflexão. A eutanásia mata a morte.